"A moda que vem da Amazônia": Jornal O Liberal entrevista João Braga

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                                                                     Imagem: Reprodução

Confira a íntegra da matéria publicada no último domingo, 12, no Caderno Mulher (pag. 16 e 17) do Jornal O Liberal, que entrevistou o historiador, estilista e professor João Braga (RJ), convidado especial da quinta edição da "Semana Fashion", realizada no final do mês de março de 2015.

                         Moda que vem da Amazônia 
                         
 Na foto, o historiador João Braga (centro) com Felícia Maia, representantes do Igama, estudantes e designers participantes da Semana Fashion. Foto: Igama Divulgação

Referência da moda no Brasil como historiador, estilista e professor, o carioca João Braga participou, no final do mês de março, em Belém, de uma sessão de autógrafos do livro “Um Século de Moda” (2013, D’Livros Editora). Na ocasião, ele falou sobre o panorama da moda no Brasil e em como o Pará tem se destacado neste cenário, atraindo os olhos do mundo para a Amazônia Paraense, ao revelar grandes criadores, design sofisticado e matéria-prima diferenciada, entre outros fatores que têm revelado o Estado como terreno promissor neste mercado.

João Braga foi o convidado especial da quinta edição da “Semana Fashion”, coordenada pela pesquisadora em Moda e professora Felícia Assmar Maia, e resultado de parceria firmada entre a Faculdade Estácio do Pará FAP, a Associação de Costureiras e Artesãs da Amazônia (Costamazônia) e o Governo do Estado, via Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme) e Instituto de Gemas e Joias da Amazônia (Igama).

Estudantes e profissionais do segmento, bem como empreendedores criativos do Programa Polo Joalheiro do Pará e do Arranjo Produtivo Local (APL) de Moda e Design participaram dos cursos, debates e do lançamento do livro de João Braga, que também reuniu os participantes para falar sobre “cultura e moda”, além de prestigiar o desfile “Identidades Paraenses”, onde foram mostradas ao público criações inéditas de universitários.

“Vi um desfile muito interessante. O que eu achei bonito foi o fato de que havia os looks conceituais e as roupas mais usáveis, mais comerciais, onde há liberdade de uma criação sem muitos rigores de ‘isso pode, isso não pode’ porque dá liberdade de passar um conceito, uma ideia. Isso fica muito bonito e você já treina, especialmente, o aluno, em duas vertentes porque ele pode trabalhar mais com a criatividade, dentro de uma moda mais autoral, e também pode trabalhar para atender o mercado, no que diz respeito a roupas mais comerciais”, observou Braga, que é natural de Paraíba do Sul (RJ).

Ele também destacou a cultura diferenciada com identidade territorial, revelada nos modelos apresentados pelos alunos. “É lógico que o que eu vi foi pouco pela grandiosidade, universo e cultura tão grande e rica que vocês têm aqui, mas o pouco que eu vi foi muito interessante. E o que é mais bonito, como disse a professora Felícia para mim, foi saber que em todo o trabalho de formatura dos estudantes, a inspiração é nas questões, tradições e cultura local, o que favorece a busca de um trabalho mais autoral e, por extensão, também brasileiro”, ratificou Braga.

Ainda sobre o desfile de moda, ele lembrou que criações inspiradas em culturas diversas podem cair dentro desse regionalismo. “Para uma moda conceitual isso é mais do que louvável e possível. Para a moda mais comercial tem que ter, de fato, um diálogo maior com o ar do tempo, um diálogo com as questões próprias, comercias. Ou seja, as respostas das roupas comerciais (vistas no desfile) eram altamente usáveis, com uma linguagem bem mais universal e com referências que nos transportam para as realidades locais: a lenda, o dia-a-dia, a cena urbana, o folclore...”, explicou.

Para a designer de joias e acessórios, Celeste Heitmann, que participou como palestrante da semana de moda, o encontro foi produtivo e oportunizou uma troca fértil de experiências e informações. Na opinião do universitário Rafael Herbert Cordeiro, a palestra do historiador e a realização da Semana Fashion foram importantes, em especial, pela questão histórica tratada. “Quem trabalha com moda tem que dominar o sentido da história da moda. Quando João Braga fala em 100 anos de moda ele fala nas grandes transformações. Ele traz esse conhecimento com uma linguagem muito mais fácil, que dá para ser entendida tanto por quem é estudante de moda, quanto por quem não está familiarizado com moda ou estuda em outras áreas”.

Modelos mostraram criações de estudantes
ENCANTO - João Braga é mestre em História da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo (SP), especialista em História da Indumentária e da Moda pela Fundação Escola de Sociologia e Política de SP e especialista em “Histoire du Costume” pela “École Supérieure des Arts et Thecniques de la Monde (ESMOD-Paris). Atualmente, trabalha como professor de História da Moda, História das Artes e História da Joalheria, Estética e Cultura de Moda, na Faculdade Santa Marcelina, na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e na Casa do Saber, em São Paulo.

O trabalho desenvolvido no âmbito do Polo Joalheiro do Pará foi elogiado pelo especialista. Segundo ele, é um trabalho bonito, que busca as próprias fontes, mas sem perder o caráter mais universal. “Está dialogando com o ar do nosso próprio tempo: daria para se usar uma joia dessa em qualquer lugar do mundo que, com certeza, seria apreciada pelo requinte, sofisticação, bom acabamento. Fiquei encantado com o talho das pedras, com o trabalho do metal. Muito lindo! E há o aprimoramento da ourivesaria e das questões gemológicas. Tudo muito apurado, muito respeitoso como técnica e como criação”, enfatizou.

“Fiquei encantado com as joias (do Polo Joalheiro). Não só com as pedras, aquelas drusas gigantescas, maravilhosas, como também com as joias contemporâneas. Mas independente da pedra, do metal precioso, tem o uso da madeira, que é encantador, assim como das sementes, dentro dessa linguagem atual das biojoias”, observou Braga.

Para os acadêmicos do curso de Design da FAP, a iniciativa foi construtiva. Gisele Luciane Neri destacou que o momento foi gratificante por proporcionar o aprofundamento sobre conhecimentos do universo da moda. A universitária Samara Crislaine contou que aprendeu mais, entre outros tópicos, sobre os fundadores das principais marcas brasileiras. 

Já Thiago Prado disse que a vinda de João Braga possibilitou aos participantes maior contato com ideias e fundamentos da moda: “É importante para o profissional saber de onde vieram o conhecimento, as técnicas, os criadores, estilistas. O encontro foi muito bom, em todos os sentidos, pois somou conhecimentos para todos em todas as áreas”.

                          
Rafael Cordeiro, Gisele Neri, Thiago Prado e Samara Crislaine e Samara Crislaine, estudantes de Design de Moda da FAP.
 Foto: Igama Divulgação

HISTÓRIA - No livro “Um Século de Moda” João Braga seleciona fatos do século XX responsáveis por formar uma identidade de moda, e que, segundo o autor, “tenham sido representativos e marcantes, incluindo o Brasil no cenário da moda”.

Em outro livro, “A história da moda no Brasil: das influências às autorreferências”, lançado dois anos antes e escrito em parceria com o jornalista Luís André do Prado, resultado de quatro anos e meio de pesquisa e produção, Braga lembra que os autores concluíram que, de qualquer lugar do Brasil, para se alcançar reconhecimento nacional e, por extensão, projeção internacional, tornava-se necessário buscar o eixo Rio-São Paulo. 

“Nessa história toda, a conclusão a que nós chegamos foi que o estado que mais deu nomes significativos para a moda foi Minas Gerais, mas com as pessoas se colocando, normalmente, no Rio de Janeiro ou em São Paulo. E o segundo estado que mais deu nomes representativos para a história da moda no Brasil foi o estado do Pará. Nomes como Guta Teixeira, Dener Pamplona de Abreu, Lino Villaventura, os irmãos Azulay (David e Simon Azulay), André Lima. São nomes que contribuíram e contribuem para essa busca por identidade nacional”, relata.

De acordo com o designer e professor Rui Martins Júnior, professor de História Social da Moda, Antropologia Social da Moda e outras matérias da área, é com olhar singular que o historiador tem observado a história social do Brasil. “A contribuição do professor João Braga é fantástica! Ele acaba pensando a história da moda no Brasil por um viés que não é tão comum; pensa-se muito em política, em economia, e ele, justamente, parte para o viés da moda. Então, é possível você pensar a história social do Brasil através da história social da moda. E acho que ele faz isso de maneira genial e mostra fôlego de pesquisa. Penso também que isso é importante de ser trazido para a Amazônia: se pensar em uma história social da moda da Amazônia. A gente ainda tem muito para pensar e construir”, observou Júnior..   
  
Foi para fomentar discussões sobre essas e outras questões que iniciativas como a “Semana Fashion 2015” têm sido promovidas no Estado, fomentando o intercâmbio com profissionais referendados e impulsionando o diálogo entre o setor produtivo e a academia. Nos encontros, alunos, professores, designers e demais profissionais têm sido instigados a discutir temas afins, contribuindo, efetivamente, com o crescimento e reconhecimento do setor, bem como com a capacitação de mão de obra especializada. 

A semana de moda comemorou os cinco anos de existência do curso de Design de Moda da faculdade. Felícia Maia também está à frente da Amazônia Fashion Week (AFW), do Fórum de Moda da Amazônia (Formoda) e do Encontro paraense de Moda e Artesanato (Epama), também realizados em parceria com o Espaço São José Liberto.

Texto: Luciane Fiuza de Mello     
                    
 Fotos: Igama Divulgação

Ascom Igama




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