Livro mostra técnicas de joalheria artesanal desenvolvidas no Pará

Lapidação diferenciada de Leila Salame é um dos temas tratados no livro. FOTO: Fábio Alves
O livro “Joias do Pará: Design, Experimentações e Inovação Tecnológica nos Modos de Fazer” foi lançado no último sábado (29), no Ponto do Autor, na XVI Feira Pan-Amazônica do Livro, que aconteceu no Hangar – Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. Quem compareceu ao lançamento ganhou um exemplar e teve a oportunidade de conversar com alguns dos autores e organizadores do livro, que trata sobre experimentações, debates teóricos, trabalhos acadêmicos e as técnicas que inovam o processo de criação e confecção das joias artesanais do Pará.

No lançamento, a designer Celeste Heitmann disse que a iniciativa é “muito importante porque mostra ao público o trabalho magnífico que vem sendo desenvolvido pelo Igama (Instituto de Gemas e Joias da Amazônia, que gerencia o Espaço São José Liberto, via Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração). É uma forma de mostrar este trabalho dentro do Estado, para todo o país e para o exterior. É realmente gratificante”.

Para Celeste, que há mais de quatro anos participa do Programa de Desenvolvimento do Setor de Gemas e Metais Preciosos do Pará, a obra é “motivo de orgulho”, e pretende mostrá-la a seus clientes e mandar para o exterior.
Anna Cristina, Celeste Heitmann e Rosângela Quintela (da esquerda para a direita). FOTO: Igama/Divulgação
Leila Salame, Socorro Costa e Raimunda Maia (da esquerda para a direita). FOTO: Igama/Divulgação
LAPIDAÇÃO - O livro resume a trajetória desenvolvida pelo Polo Joalheiro do Pará na criação de uma Escola de Joalheria do Pará, voltada à valorização da joia artesanal e da cultura da Amazônia. Há também registros de inovações, como a lapidação diferenciada, técnica criada pela lapidária Leila Salame e descrita em um dos 10 artigos do livro, denominado “A arte, o encanto e a trajetória de uma lapidária”, assinado pela professora Raimunda Figueiredo Silva Maia e por Anna Cristina Resque Meirelles, diretora do Museu de Gemas do Pará.

Leila Salame utiliza apenas grafismos marajoaras. Ela explicou que os traços são perfeitos para fechar as faces das gemas, com uma simetria que não deixa espaços vagos. “A lapidação diferenciada surgiu a partir da vontade de fazer algo fora do tradicional, e enfatizando a nossa cultura. O livro está reunindo trabalhos importantes desenvolvidos desde o início do Polo Joalheiro”, enfatizou a lapidária, uma das pioneiras do programa.
Quartzos hialinos lapidados por Leila Salame. FOTO:  Ocione Garçon

No artigo sobre o tema, Raimunda Maia descreve o processo criativo da técnica desenvolvida pela lapidária paraense. “O trabalho da Leila é tão diferenciado que você olha a peça e a identifica logo. O trabalho dela já está registrado no IBGM (Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos), e lapidário de renome internacional já o citou como referência, considerando como um trabalho genuinamente brasileiro”, informou a professora.

Ana Cristina Resque Meirelles, que também é uma das organizadoras do livro, contou que a iniciativa imprime ao Programa de Gemas e Metais Preciosos uma vertente mais científica, ao reunir e registrar as experiências e os trabalhos mais consistentes, com valor artístico e design próprio, desenvolvidos por mais de uma década.

Gemas vegetais criadas pelo mestre ourives Paulo Tavares. FOTO: Igama/Divulgação

GEMAS VEGETAIS - Outro exemplo de novas tecnologias é o trabalho do mestre ourives Paulo Tavares, consultor técnico do Igama desde 2007, que criou o processo de fabricação das gemas vegetais a partir de resinas de madeira, frutas e outros produtos naturais.

Denominadas gemas vegetais, as peças coloridas criadas por Paulo Tavares têm dureza similar a de uma pérola. Resultado de original processo de fabricação, as gemas vegetais são produtos orgânicos feitos com resina e pigmentos naturais. Para Rosângela da Silva Quintela, professora da Faculdade de Estudos Avançados do Pará (Feapa), que além de organizadora do livro também assina o artigo referente ao processo criado por Paulo Tavares, o livro é o compartilhamento destas experiências e vivências que o Polo Joalheiro vem construindo.

O livro também é organizado por Rosa Helena Nascimento Neves, diretora executiva do Igama, e Rosângela Gouvêa Pinto, coordenadora do Curso de Design da Universidade do Estado do Pará (Uepa).
Anna Resque autografa o livro de Larissa  Colares. FOTO: Igama/Divulgação

APROVAÇÃO
– Direcionado especialmente a professores e alunos de cursos como Design, Arquitetura, Artes Visuais e Turismo, o livro foi aprovado pelo público que compareceu ao lançamento, como a estudante de Arquitetura Larissa Colares, da Universidade da Amazônia (Unama). “O livro é importante porque ressalta a cultura paraense, divulgando-a mais no próprio Estado e em todo o Brasil”, ressaltou. Para o vendedor autônomo Pedro Júnior é interessante mostrar o trabalho da joalheria artesanal paraense para o mundo inteiro, destacando “o potencial criativo do paraense no manuseio de pedras e metais preciosos”.

A auxiliar de enfermagem Lindalva Torres, que esteve no lançamento com a filha e sobrinhos, afirmou que a leitura do livro é uma forma de conhecer melhor todo o processo de confecção da joia artesanal paraense. “Depois da Feira do Livro, as crianças também poderão levar mais uma experiência para contar na sala de aula”, completou.

Detalhe da capa do livro destaca desenhos de Erivaldo Júnior. FOTO: Igama/Divulgação
Desenhos de Erivaldo Júnior compõem a capa do livro. FOTO: Igama/Divulgação
Na capa do livro destacam-se desenhos do arquiteto e designer Erivaldo Júnior, cuja descrição do processo criativo diferenciado criado por ele faz parte da publicação. Ele contou que, ao longo de dois workshops de geração de produtos, promovidos pelo Igama, os professores ficaram “impressionados” com a forma especial de criação, desenvolvida por ele e pela designer Nilma Arraes.

Por ser artesã e ter habilidades manuais, mas não dominar as técnicas de desenho, Nilma elaborava suas peças usando dobraduras de papel. Já Erivaldo Júnior desenha suas joias como um projeto arquitetônico, com perspectiva em 3D e contendo detalhes das articulações das peças.

Público prestigia lançamento do livro "Joias do Pará". FOTOS: Igama/Divulgação
OUTROS TEMAS - Os artigos também retratam, entre outros temas, a identidade, a história e o mercado para o desenvolvimento do design de joia no Pará; os símbolos e imagens da cultura material e imaterial na criação da joia amazônica; um estudo científico sobre os muiraquitãs; pesquisas sobre o setor joalheiro, realizadas por alunos do Curso de Design, vinculado ao Centro de Ciências Naturais e Tecnológicas da Uepa, e a incrustação paraense, um modo de fazer criado e aperfeiçoado na joalheria local.

Publicado pela editora Paka-Tatu, o livro traz textos assinados também pelo designer Stefano Ricci, o mestre ourives Claudio Franchi, o professor e poeta João de Jesus Paes Loureiro, o professor da Universidade Federal do Pará Marcondes Lima da Costa, a professora Rosângela Gouvêa Pinto e a jornalista Socorro Costa.

Posteriormente, o livro será doado aos autores, bibliotecas e entidades parceiras do Espaço São José Liberto/Igama, e distribuído para instituições de ensino superior que possuam cursos em áreas afins ao Programa de Desenvolvimento do Setor de Gemas e Metais Preciosos.

“Joias do Pará” é resultado de uma parceria do Instituto de Gemas e Joias da Amazônia (Igama), instituição que gerencia o Espaço São José Liberto e o Polo Joalheiro do Pará, com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapespa) e Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Pará (Sebrae), com apoio da Secretaria Especial de Infraestrutura e Logística para o Desenvolvimento Sustentável e Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração (Seicom).
Da esquerda para a direira, Socorro Costa, Raimunda Maia, Rosângela Quintela e Anna Cristina Resque. FOTO: Igama/Divulgação

Ascom/Igama




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