Broche do manto de Nossa Senhora é feito por ourives do Polo Joalheiro do Pará

Broche produzido pelo ourives Luiz Nilo para o Círio 2012. FOTO: JOÃO RAMID
Inspirada em detalhes da arquitetura da Basílica Santuário de Nazaré, a joia que fecha o manto da imagem peregrina do Círio de Nazaré foi criada pelas mãos habilidosas do ourives e restaurador Luiz Nilo Alves da Silva, profissional vinculado ao Polo Joalheiro do Pará. Além do broche, Luiz Nilo também produziu a joia que será colocada na parte posterior do manto da Santa.

Neste ano, o design do manto, um dos principais símbolos da festa, foi criado pelo estilista Carlos Amilcar, que também o confeccionou. Mantido em segredo absoluto durante o processo de criação e confecção, o manto foi mostrado pela primeira vez ao público na solenidade de apresentação, realizada na Basílica Santuário, nesta quinta-feira (11), às 18 horas.

Luiz Nilo faz parte do Programa de Desenvolvimento do Setor de Gemas, Joias e Metais Preciosos do Pará, financiado pelo Governo do Estado por meio da Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração (Seicom) e gerenciado pelo Instituto de Gemas e Joias da Amazônia (Igama), OS gestora do Espaço São José Liberto.

A criação de mantos exclusivos para a imagem peregrina é uma da tradição da festa nazarena. Católico, o ourives Luiz Nilo revela que, durante todo o processo de criação da joia, a emoção o envolveu de tal forma, que chegou a chorar várias vezes.

O convite para o trabalho, conta o ourives, surgiu por intermédio do estilista Carlos Amilcar. “Quem me indicou para o Carlos foi o Antônio José de Souza, que trabalha com mantos e bordados, e para quem eu já tinha feito algumas peças. Ele faz parte da equipe do Carlos Amilcar”, informa.

O broche foi criado a partir de uma fotografia que retrata o detalhe de uma escultura em alto relevo, localizada em uma coluna do lado direito da entrada da Basílica de Nazaré. “No primeiro contato, ele (Amilcar) me pediu um protótipo. Ele queria que eu criasse a peça em prata, mas eu disse que entregaria uma peça única, sem protótipo”, relata Luiz Nilo, esclarecendo que é dessa forma que confecciona suas peças artesanais exclusivas.
Flores e lírios compõem a peça. FOTO: LUIZ NILO
REFINAMENTO – Para reproduzir em forma de joia a imagem selecionada pelo estilista, foram utilizados ouro branco e amarelo (18 k), além de madrepérola, granada, diamante e turmalina rosa. A granada forma, ao centro, o Sagrado Coração de Jesus, sendo ladeada por ramos de rosas e de lírios cravejados de diamantes e turmalinas. Rosas e lírios também estão presentes no manto.

Todo o processo de produção do broche durou um mês, sendo necessária uma semana só para criar a peça que compõe a costa do manto, a qual reproduz o símbolo mariano: “Na verdade, demorou um pouco para se conseguir achar a madrepérola ideal, que não tem aqui na região, e precisamos importar”, conta o ourives, que realizou todo o trabalho sozinho. A madrepérola compõe o fundo do broche.

Símbolo Mariano produzido por Luiz Nilo. FOTO: LUIZ NILO 
O símbolo mariano (monograma de Maria, com a combinação das letras M e A, símbolo da instituição Marista), segundo ele, foi pesquisado na internet, com alguma adaptação no desenho da parte superior, onde estão dispostas algumas estrelas. A peça é de prata com cristais Swarovski e alguns detalhes banhados em ouro amarelo 18 k.

Luiz Nilo também esculpiu as peças, técnica até então nunca utilizada por ele. Para esculpir cada ramo do broche, por exemplo, o ourives conta que, depois de recortada no formato correto, a peça em ouro é colocada em goma laca, uma pequena estrutura que dá suporte para este tipo de trabalho. A mesma técnica foi utilizada na criação do símbolo mariano.

Detalhe do broche. FOTO: LUIZ NILO 

SURPRESA - A lapidação foi outra experiência que mexeu com a emoção do ourives, que já tinha se arriscado nesta área, em outras ocasiões. “Se eu fosse entregar para um lapidário, a gema não ficaria do jeito que eu queria, do jeito que eu imaginei”, diz ele, que acabou lapidando a granada localizada no centro do broche, e recebendo o polimento da lapidária Leila Salame, também ligada ao Polo Joalheiro.

Ao final do trabalho, destaca o ourives, outra boa surpresa foi visualizar o efeito do esplendor de ouro esculpido, localizado abaixo da granada, com imagens semelhantes a chamas.

“Quando eu fiz os lírios, a primeira peça do broche, usei pela primeira vez a técnica de esculpir, e me emocionei muito. Quando vi o broche pronto, chorei de novo”, revela.

O ourives durante a confecção da joia. FOTO: LUIZ NILO
TRAJETÓRIA – Segundo Luiz Nilo, sua entrada no ramo da joalheria foi por acaso, em 2001, a convite do seu sogro, que é ourives e estava precisando de um ajudante de confiança. Nilo deixou seu emprego como cobrador de ônibus e começou a aprender o ofício, no qual, em cerca de três meses, já demonstrava muita habilidade.

Em 2002, com a inauguração do Espaço São José Liberto, o ourives passou a ser beneficiado pelas ações do Programa Polo Joalheiro. Na época, ele fazia parte da entidade representativa dos joalheiros paraenses, que o selecionou para integrar o programa. Hoje, a entidade que os representa é a Associação de Joalheiros do Espaço São José Liberto no Pará (Ajepa).

Nessa época, suas peças começaram a ser comercializadas na loja incubadora do Polo, denominada Loja UNA. Posteriormente, ele se associou a uma das microempresas do Polo Joalheiro, mas, desfeita a sociedade, passou a prestar serviços de ourivesaria para várias empresas vinculadas ao Programa.

Durante sua trajetória, Luiz Nilo produziu várias peças com temática envolvendo o Círio, muitas delas expostas em feiras e eventos nacionais e internacionais. Ele acredita que a experiência de criar o broche de Nossa Senhora de Nazaré, este ano, será marcante em sua carreira, pelo fato de poder ver seu trabalho tornar-se mais conhecido, já que a festa nazarena é acompanhada no mundo inteiro.

Luiz Nilo mostra o broche para Rosa Helena Neves. FOTO: LUIZ NILO
RECONHECIMENTO – A diretora executiva do Igama, Rosa Helena Neves, ressalta que a participação dos profissionais do Polo Joalheiro do Pará neste momento de festa da população paraense é a coroação do trabalho que tem sido desenvolvido na cadeia produtiva de gemas e joias artesanais do Pará ao longo de mais de 10 anos, sempre calcado na valorização profissional e na consolidação da identidade da joia artesanal paraense.

O convite feito a Luiz Nilo para fazer o broche de Nossa Senhora é um reconhecimento ao trabalho dos profissionais do Polo Joalheiro do Pará. Em 2010, a designer Selma Montenegro, que integra a equipe do Polo, foi a responsável pelo projeto do broche denominado "Majestosa", que fechou o manto da Santa.

O ourives Milton Barros também participou da produção da peça de ouro 18 k, criada por Selma Montenegro em três dimensões para retratar a fachada da Basílica Santuário, cujo desenho começou a ser feito em 2009, em homenagem aos 100 anos do lançamento da pedra fundamental da Basílica. Selma também assinou, no mesmo ano, o design de um broche para a festa religiosa no município de Castanhal, no nordeste paraense.

Ascom/Igama

FOTO DO BROCHE COM FUNDO BRANCO: JOÃO RAMID

DEMAIS FOTOS: LUIZ NILO




Não deixe de comentar essa matéria! Seu comentário é importante para nós.

Comentários



Postar um comentário

Postagens Recentes
Postagens Antigas
Inicio
Contador acessso