Polo investe na qualificação e inovação do setor joalheiro do Pará

Seminários, workshops, cursos livres e outras ações de qualificação profissional já estão sendo realizadas no Polo Joalheiro do Pará, dando prosseguimento à programação de capacitação técnico-científica dos profissionais vinculados ao Programa de Desenvolvimento de Joias e Metais Preciosos do Pará, desenvolvido pelo Instituto de Gemas e Joias da Amazônia (Igama), instituição que gerencia o Espaço São José, em parceria com o governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia (Sedect).

O objetivo é aprimorar, cada vez mais, a qualidade dos produtos da joalheria local, informa a diretora Executiva do Igama, Rosa Helena Neves. A programação de capacitação para o setor produtivo, apresentada a todos os profissionais do Polo em junho, inclui, entre outras ações, workshop para produção de embalagem de joias, nos dias 09 e 10 de agosto, sob a coordenação da consultora Ana Paula Freitas; em agosto e setembro, curso livre de expressão artística e desenho técnico de joias, com os designers Felipe Braun e Lídia Abrahim; em setembro, outubro e novembro, curso de ilustração para joias, com Lídia Abrahim, e de agosto a outubro, curso de história da joalheria, módulos I e II, com a designer Clarisse Fonseca.

Serão realizados ainda neste segundo semestre capacitação em gemologia, purificação de metais para ourivesaria, metalurgia básica para ourives e formação de preços pra projetos de joias, e o workshop para criação de coleção para a VIII Pará Expojoia – Amazônia Design, que acontecerá em dezembro, no Espaço São José Liberto.

Segundo Rosa Helena Neves, as ações para 2011 têm como objetivo dar continuidade às atividades propostas pelos segmentos atendidos, aliadas a estratégias de valorização e de reconhecimento da joia artesanal, com o aperfeiçoamento dos seus saberes e modos de fazer.
Além da realização de workshops de geração de produtos para novas coleções, cursos técnicos e oficinas, disse a diretora, pela primeira vez serão realizados cursos livres com temáticas destinadas “ao desenvolvimento de uma massa crítica sobre a joalheria, com a participação de estudantes de design das universidades parceiras”.

Resultados - O processo de qualificação dos designers de joias e dos profissionais ligados diretamente ao trabalho de ourivesaria vem resultando na criação de cinco coleções fixas anuais, além das coleções criadas e produzidas pelos joalheiros que se inscrevem nos editais de pautas de exposições inéditas do Igama.
Entre as ações de maior amplitude já realizadas, e que terão continuidade, estão as três edições do Workshop Internacional de Design e Ourivesaria, ministrados pelos profissionais italianos Stefano Ricci (foto), arquiteto e designer de joias, e Claudio Franchi, crítico de arte e mestre ourives, e os workshops para desenvolvimento de produtos destinados às coleções Joias de Nazaré, lançada em outubro, e da feira Pará Expojoia – Amazônia Design. Estes últimos já trouxeram a Belém as consultoras Regina Machado e Cidda Siqueira, ambas vinculadas ao Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), a jornalista e consultora Cristina Franco, e valorizaram profissionais locais, como os professores e designers Rosângela Gouvêa e Tadeu Nunes.

“A qualificação dos profissionais vinculados ao Polo Joalheiro é um processo contínuo e que avança a cada ano, buscando sempre o reconhecimento e a valorização da joia artesanal paraense, fruto do trabalho realizado no Polo, com total apoio do governo do Estado, do Sebrae-PA e da rede de parceiros locais e nacionais”, ressaltou Rosa Helena Neves.

De acordo com ela, o resultado desse trabalho se reflete no reconhecimento, em outros Estados e fora do Brasil, da importância e da qualidade das joias artesanais do Pará. Um reconhecimento traduzido em convites para participação em eventos promocionais dos setores joalheiro e turístico, realizados no Brasil e no exterior. “Nossa meta é, sempre, colocar a joia paraense em destaque nesses eventos, mostrando ao mundo o diferencial do trabalho realizado pelos profissionais do Polo Joalheiro, que está cercado por todo o simbolismo da nossa cultura, pela diversidade da matéria prima e pela competência e sensibilidade dos nossos artistas da joalheria”, enfatizou a diretora.

A importância da joalheria artesanal paraense é ressaltada por Stefano Ricci e Claudio Franchi, ardorosos defensores do conceito de joia como obra de arte, e não apenas como um produto comercial, um adorno ou objeto de poder e status. Para eles, que vêm da Escola Romana de Joalheria, uma das mais tradicionais da Europa, o modo de fazer dos joalheiros do Polo caracteriza uma Escola de Joalheria.

“O projeto de qualificação também busca a geração de coleções, com lançamentos acompanhados de uma promoção comercial, previamente definida na busca pela segmentação de mercado para os trabalhos de joalheria, design e manualidades. Todo esse esforço e investimento implicam no aperfeiçoamento e inovação da joia do Pará”, concluiu Rosa Helena Neves.



A experiência e a poesia do nosso tempo

O crítico de arte e mestre ourives italiano Claudio Franchi (foto), em artigo sobre a joia como obra de arte, traça um paralelo entre as escolas Romana e Paraense de Joalheria, a partir da análise da última coleção de joias criada por Stefano Ricci e lançada na Rússia, em 2010. A inspiração da coleção vem de um clássico do cinema mundial, o filme La Dolce Vita, de Federico Fellini. A seguir, a íntegra do artigo.

Quando, em 2008, teve inicio em Belém o primeiro Workshop Internacional de Design e Ourivesaria, Paolo Carlucci (coordenador internacional do projeto), Claudio Franchi (crítico, historiador da arte e mestre ourives) e Stefano Ricci (arquiteto e designer, diretor científico dos workshops), com certeza não imaginavam num primeiro momento – mesmo que fosse fortemente esperado – de poder abrir em tempo breve um tão estimulante percurso de experiências inovadoras.

Na realidade, desde então o trabalho de formação no Brasil, abordou temáticas diversificadas em duas edições (em 2009 e em 2010). O resultado destas experiências poderia ser sintetizado na recente coleção de joias, assinada por Stefano Ricci para a grife de luxo Albamonte, de São Petersburgo, na Rússia, e inspirada a um dos momentos mais emocionantes da recente história italiana: o filme La Dolce Vita, de Federico Fellini.

O leitor atento irá se interrogar sobre a natureza da relação que interliga uma experiência de formação sobre o design da ornamentação e uma coleção de joias inspirada em um tema italiano e realizada para uma empresa da Rússia: então o leit motiv é representado pelo método, ou seja, a transversalidade de um processo profissional que consiste na interação da experiência, cultura e poesia, finalizada com a produção de preciosos produtos de ornamentação a ser utilizados sobre o corpo.

Os workshops no Pará se destinaram ao estudo das importantes referências da cultura local, em seguida passando a experimentar a possibilidade de transferir ao projeto os valores de uma cultura que queria ser conhecida de modo mais amplo, bem além das fronteiras deste Estado. O melhor modo para fazê-lo seria transferir ao projeto da ornamentação os signos de uma cultura milenar, revisitada segundo uma lógica de estética contemporânea, para depois apresentá-los a um público que nesta produção encontraria um estilo de distinção e originalidade.

O trabalho de Ricci, Franchi e Carlucci foi desenvolvido exatamente no sentido da valorização da tradição, aquela que muitas vezes é preservada pelo povo com carinho, mas que pode vir a ser riqueza como extensão do conhecimento e da cultura.

Assim, nas experiências paraenses o grupo de docentes italianos trabalhou indicando o método da recuperação da cultura marajoara em base moderna, transferindo à aula o sentido da inovação de um signo, trabalhando sobre o dualismo projeto-técnica executiva, com o fim de estimular os alunos a superar o estereótipo fixado em milênios de história, para fazê-lo signo de comunicação em uma joia da escola contemporânea paraense.

A lógica da sensibilização cultural virou expressão de novidade e atualidade na jóia, e a consequência disso poder ser lida hoje nas formas inovadoras da nascente Escola de Joalheria do Pará.

O método é o mesmo que pode ser lido nas refinadas e valorizadas páginas do catálogo de joias de “La Dolce Vita”, dentro das quais os 10 concepts definidos pelo autor assumem forma, seja a partir da cênica beleza da Fontana di Trevi, seja a partir das atmosferas sensuais e envolventes da cidade de Roma dos anos 1960, fixadas na célebre película cinematográfica em preto e branco, pelo gênio de Federico Fellini.

Não é, portanto, por acaso que a experiência e a poesia entre Brasil, Itália e Rússia se entrelaçam, sendo que a intensa lição da leitura da história pode vir a ser o veículo para elaborar linguagens que não têm fronteiras, do momento que falam a única linguagem que as almas sensíveis podem conhecer: a da beleza. (Claudio Franchi).

Ascom/Igama




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