Resultados de pesquisas de universitários de Design de Moda são apresentados no Espaço São José Liberto



 Público prestigiou o evento. Foto: Ygor Durães 

Com temas inspirados na arte, cultura, costumes, arquitetura, folclore e fatos históricos do Pará, 32 coleções de moda criadas por formandos do Curso de Design de Moda da Faculdade Estácio do Pará/FAP foram apresentadas no anfiteatro Coliseu das Artes, no Espaço São José Liberto - Polo Joalheiro do Pará. A primeira edição do “Design de Moda”, desfile de conclusão de curso dos alunos, realizado em junho, mostrou o resultado dos trabalhos de pesquisa acadêmica.

Segundo Rosa Helena Neves, diretora executiva do Instituto de Gemas e Joias da Amazônia (Igama), que administra o Espaço São José Liberto, o apoio institucional garante o local para a realização do desfile e ajuda a promover novos talentos, a criação e produção em moda, criando oportunidade de futura inserção desses alunos no empreendedorismo criativo.

As criações abordaram temas como religiosidade, futebol, manifestações folclóricas e ritmos do Pará. Insumos da região e o trabalho artesanal marcaram algumas criações. Maquiagens, performances dos modelos e trilha musical diversificada foram outros diferenciais do desfile, coordenado e dirigido por Felícia Maia, professora, pesquisadora na área da Moda e coordenadora do Curso de Design de Moda da Estácio/FAP, com apoio de Milena Castro, professora do curso.
Foto: Ygos Durães

“Há quem diga que a moda é cíclica, e que vai e volta trazendo o que já foi e que volta a ser. Para essas pessoas poucas novidades neste campo são acrescentadas as nossas vidas. Mas, quem realmente vê a moda como um importante fator de construção de imagem e de configuração da cultura de uma sociedade, vai sempre visualizá-la como uma ‘caixinha de surpresas’. Muito embora existam tendências, a moda é, na verdade a arte de se vestir, de criar figurinos próprios, de adaptar o que está em voga a sua própria personalidade. E foi mais ou menos isso, algo de tendência com um toque autoral, o que se viu no desfile das coleções de conclusão de curso dos alunos de Design de Moda da Faculdade Estácio do Pará”, avaliou Felícia Maia.

A parceria com o Igama/ESJL, de acordo com Felícia, representa a possibilidade de mostrar para a sociedade esses novos designers que, em breve, estarão no mercado. “Sem esse espaço, tanto físico como de incentivo à moda local, não teríamos como motivar nossos alunos a fazer sempre melhor e se posicionar no mercado”, ressaltou a coordenadora.

No desfile foram mostradas três peças de cada coleção, sendo uma delas conceitual. As coleções agradaram ao público que lotou o Coliseu. Para Jack Carvalho, consultora de Moda e Estilo, a iniciativa foi positiva e deve ter continuidade. “A proposta é bem jovem. Está nascendo uma nova geração de designers. Acho importante essa experimentação. É experimentando que a gente consegue inovar”, afirmou.

Cinema, história e arte - Do brilho da “Belle Époque na Amazônia” aos figurinos extravagantes de Gaby Amarantos, as coleções de moda e design abordaram representações da identidade e da história do Pará. “Contrastes do Olympia”, coleção feminina moda festa criada por João Paulo Ramos, mostrou o glamour de momentos históricos vividos e apresentados nas telas do cinema mais antigo em atividade do Brasil, o Olympia, na fase áurea do Ciclo da Borracha. 

João Paulo conta que tentou retratar, através das formas e cores, toda a “sentimentalidade que o espaço recebe dos belenenses”. Sobre o evento, ele observou que o resultado foi satisfatório e cumpriu com os seus objetivos de divulgar a produção do Curso de Moda e Design da instituição. 

Juliana criou coleção inspirada no Olympia. Foto: Ascom Igama
A história do Olympia também serviu de inspiração para Juliana Ribeiro, criadora da coleção de moda casual feminina “A Arte de uma Época”, resultado de pesquisa sobre o cenário da inauguração do cinema. A coleção tentou retratar toda a elegância da moda naquele momento em que o cinema era um espaço de representação de poder através do seu público.

“Eu me inspirei nas poltronas do cinema, no jeito em que as pessoas se vestiam naquela época em que o Olympia era um palco para elas, que escolhiam as melhores roupas e iam ao cinema para serem vistas. Peguei as referências da época e coloquei em uma coleção que desse para a mulher, hoje em dia, usar”, explicou Juliana. Para apresentar os três figurinos da sua coleção – composta por 10 e criada ao longo de três meses - ela escolheu a trilha sonora de Tempos Modernos, filme de Charles Chaplin. 


             Coleção "Cocottes, Margots e Panchitas". Foto: Ascom Igama

Inspirada no mesmo período, a coleção de moda casual feminina "O Brilho das Cocottes, Margots e Panchitas”, de Débora Teixeira, representou o universo não contado das meretrizes da época, fazendo um passeio pelo luxo do passado e beleza da sua influência no presente.

Os figurinos mostraram a delicadeza das rendas de Carla Beltrão (artista visual artesã paraense que cria desenhos a partir de costuras, colagens, derretimentos e sobreposições, formando peças de estampas e rendas originais) e resgataram o brilho dessas mulheres marginalizadas e importantes para a construção da sociedade paraense.

Outro cinema histórico paraense, o Ópera, motivou Brian Sousí a criar a coleção “O Bonzão Bonitão”, de moda masculina casual. O cinema pornô inspirou looks que tentaram transmitir atitude e sensualidade sobre a imagem masculina. Foram usadas diferentes modelagens, tecidos e uma cartela de cores para, de acordo com Brian, expressar “várias formas de prazer. A coleção carrega consigo um caráter dominador e revolucionário no universo da moda masculina”.

Música, cultura e arte - Luzes de LED, cores fortes e tecidos leves marcaram o desfile da coleção de Abigail Braga, denominada “A Resplandescência Amazônica”, inspirada na cantora e compositora paraense Gaby Amarantos.

  Gaby Amarantos também inspirou criação de alunos. Foto: Ygor Durães. 

A musicalidade regional também inspirou a coleção de moda praia feminina “Guitarrada, o Ritmo da Amazônia”, de Jéssica Ribeiro. O estilo musical carregado de alegria e sonoridade tropical foi o foco da sua pesquisa sobre a influência histórica do som da guitarra como elemento de estilo na cultura amazônica, materializando a identidade de um público através de um trabalho de forma e estamparia.

A apresentação da coleção “Terracota” resultou de estudos sobre a iconografia e historicidade das cores e traços da cerâmica de Icoaraci, distrito de Belém. A estética da coleção de Leny Flores foi inspirada em arquétipos indígenas milenares que reforçam e valorizam a identidade cultural paraense.

  
               Cerâmica serviu inspirou a aluna Leny Flores. Foto: Ygor Durães

Flora Terra concebeu a coleção de moda feminina casual "Ritmos e Cores", com estampas exclusivas, para falar sobre o conhecido Arrastão do Boi Pavulagem, manifestação cultural que visa manter essa tradição paraense. A pesquisa acadêmica mostrou a importância da cultura do Pará, sua riqueza e valorização.

Etnia - Influências da colonização do Pará e suas as raízes étnicas serviram de ponto de partida para a criação de Rafael Santana Magno. O projeto “Ubuntu, Raízes Africanas na Amazônia”, composto por 11 figurinos, foi baseado no resgate da etnia africana na construção da identidade do povo paraense.
 
 Rafael levou para a passarela a coleção "Ubuntu". Foto: Ygor Durães 

“Acho muito importante reconhecer que não fomos formados somente por europeus e indígenas; temos uma raiz africana muito forte. Tenho visto coleções muito boas que mostram isso, mas ainda falta esse resgate”, observa Magno, detalhando que na composição dos figurinos usou a cambraia (tecido), conchas e búzios, em referência à religiosidade africana. 

A miçanga foi a matéria-prima central da coleção de moda festa feminina concebida por Letícia Pereira. “Miçanga, a Preciosidade Indígena” apresentou a importante relação entre a arte e a moda, valorizando a cultura Kaypó, que inseriu o material na cultura indígena. De acordo com Letícia, as miçangas estão essencialmente ligadas à corporalidade e à comunicação visual e, atualmente, complementam a identidade dos Kayapós: “Eles ornamentam seus corpos com diferentes tipos de acessórios, como pulseiras, colares e brincos com cores mais intensas, enriquecendo ainda mais a sua cultura e tornando-se uma grande manifestação estética”.
Peça da coleção "Payxão". Foto: Ulysses Potiguara

Futebol e festivais - Descontração e popularidade também foram marca do desfile de Gabriela Monteiro Moreira, que apresentou a coleção de moda casual feminina “Payxão Paraense”, retratando a relevância da história do futebol representado pelo clube Paysandu Sport Club, suas cores e o comportamento de sua torcida, como expressão cultural.

A diversidade da cultura paraense, representada nos festivais e manifestações folclóricas tradicionais de regiões do Estado também foram mostrados nas criações dos alunos. Para realçar a beleza e grandeza da festividade da padroeira dos paraenses, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, no mês de outubro, que Josi Santos criou a coleção "Encantadora Noite de Luzes e Cores”, usando como inspiração o parque de diversões, os brinquedos e os doces do Arraial de Nazaré. A coleção mostrou moda jovem, peças de feminilidade e alegria, com tecidos leves, recortes nas laterais e tops com tiras, além da utilização de tecidos apropriados para o clima da região.

O aluno Thiago Dias criou a coleção "Odoyá, Rainha do Mar”, que propõe peças leves e sofisticadas, tendo como referência o Festival de Iemanjá. O aluno buscou retratar a fé dos devotos ao Orixá através dos presentes que são ofertados nas águas durante a festividade.

Coleção "Odoyá". Foto: Ygos Durães

Já os figurinos criados por Luh Colares para a coleção “Festival do Sairé: a Beleza de uma Cultura” tiveram redes de pesca em suas composições e nasceram de uma das mais conhecidas manifestações folclóricas da Amazônia, representando os Botos Rosa e Tucuxi. O festival é realizado todos os anos em Alter-do-Chão, vila localizada a 40 km de Santarém, oeste do Pará. 

A coleção “As Deusas de Sebastião”, de Socorro Ribeiro, teve como ponto de partida as noites da festividade do Glorioso São Sebastião de Cachoeira do Arari, município do Arquipélago do Marajó. De acordo com a tradição do local, as mulheres devotas reúnem-se na Barraca da Santa e vestem-se de forma elegante para vivenciar momentos de fé e confraternização.

       Socorro Ribeiro criou a coleção "As Deusas de Sebastião". Foto: Ygor Durães 

Natureza, lendas e costumes - A coleção de moda infantil "Livre para Voar”, de Gidalva Aguiar, foi inspirada no Borboletário do Mangal das Garças, ponto turístico da capital paraense. "Crianças são borboletas ao vento, algumas voam rápido, outras pausadamente, mas todas voam do seu melhor jeito. Cada uma é diferente, cada uma é linda e cada uma é especial", destacou Givalva.

"Iaras, Sereias Urbanas", coleção de moda casual feminina, de Bruno Miranda, teve como referência a lenda amazônica da bela moça, metade peixe e metade mulher, que mora nas profundezas dos rios da Amazônia. O aluno imaginou a representação das “iaras” na atualidade como mulheres guerreiras, sedutoras e de beleza inigualável, que estão circulando pelas ruas como sereias urbanas.

Os benefícios, a história e os costumes provenientes do Banho de Cheiro, remetendo aos conhecidos "banhos do Ver-o-Peso", em especial o da Beth Cheirosinha, foram inspiração para a coleção de moda jovem “A Beleza da Naturalidade”, de Marcella Cabral. Ela lançou mão de tecidos leves e cores vibrantes vistas nas garrafinhas das essências vendidas nas barracas do mercado, homenageando as vendedoras da feira e sua contribuição para manter a tradição local.

Em "Rosa da Floresta" Tania Gonçalves falou sobre as "mulheres do seringal", destacando a história de grandes guerreiras que vivenciaram os trabalhos nos seringais da Amazônia. 

Foto: Ygor Durães 

Fotografia e cidade – “Retratos Cotidianos”, de Joyce Luz, fez uma análise da sensibilidade dos registros do fotógrafo paraense Luiz Braga. A criadora buscou retratar as imagens reinterpretadas por seu leitor, a partir de cada vivência, memória e comunicação.

A movimentada Avenida Visconde de Souza Franco, mais conhecida como “Doca”, também serviu de fonte de pesquisa para o desfile. A "Calçada da Alegria", de Sandra Monteiro, evidenciou toda a felicidade presente no local, fazendo referência aos eventos sociais, manifestações populares e comemorações que lá ocorrem, além de mostrar características de sua arquitetura.

Já a pesquisa para a coleção de moda de alfaiataria masculina "Dutvei: Vestindo uma História Real”, feita por Evelyn Oliveira, resgatou a história de Daniel Berg, um dos fundadores da igreja Assembleia de Deus no Brasil.
Foto: Ygos Durães

Os temas abordados nos desfiles foram Contrastes do Olympia; Dutvei: Vestindo uma História Real; Guitarrada, o Ritmo da Amazônia; O Brilho das Cocottes, Margots e Panchitas; Calçada da Alegria; Ritmos e Cores; Rosas Tranparentes; Retratos Cotidianos; Terracota: Cores e Traços; Payxão Paraense; A Beleza da Naturalidade; Ubuntu, Raízes Africanas na Amazônia; Miçanga: a Preciosidade Indígena; Odoyá, Rainha do Mar; A Arte de uma Época; Livre para Voar; Encantadora Noite de Luzes e Cores; A Resplandescência Amazônica; As Deusas de Sebastião; Festival do Sairé: a Beleza de uma Cultura; Iaras: Sereias Urbanas; Além da Mandioca; Amor de Mãe; Festa Multicores; Açaí, uma Identidade Cultural; O Rei da Amazônia; Liberdade Colorida; Up Building Belém; Rosa da Floresta; Coleção de Moda; O Voo da Borboleta; e Caminho das Águas.

As coleções foram criadas pelos universitários Bruno Miranda, Ivone da Silva, Maria do Perpétuo Socorro Ribeiro, Juliana dos Santos, Abigail Braga, Gidalva de Aguiar, Thiago Dias, Josiane Santos, Letícia Pereira, Marcela Bittencourt, Luciana Roleta, Lenilda Flores, Joyce Luz, Flora Terras, Tânia Gonçalves, Évelyn de Oliveira, Jéssica dos Santos, Débora Santos, Raphael Magno, João Paulo Ramos, Jhon Colins, Maria Repolho, Nayra Gabriella, Luciana Oliveira, Carla Santos, Alessandra da Silva, Célia Santos, Rosana Pantoja, Glorimar Monteiro, Jonilson Souza, Alessandra Soares e Rejane de Sá.

A primeira edição do “Design de Moda” é uma iniciativa do Curso de Design de Moda da Faculdade Estácio/FAP, com apoio institucional do Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), e do Igama, coordenador técnico do Arranjo Produtivo Local (APL) de Moda e Design e Indústria de Confecção.

Luciane Fiuza – Ascom Igama




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