Designers visitam o Mercado Bolonha sob a orientação da consultora Regina Machado |
Elementos e detalhes que se confundem no cenário rotineiro da cidade, mas que um olhar mais atento remete a um período em que Belém, a calorosa capital do Pará, era a porta de entrada da Europa no Brasil. Azulejos, gradis, objetos decorativos em fachadas de prédios e formas inspiradas no Art Noveau foram observados com mais apuro pelos profissionais do Polo Joalheiro, que se preparam para criar a coleção de joias a ser lançada na IX Pará Expojoia – Amazônia Design, a feira do setor joalheiro que acontecerá em dezembro, no Espaço São José Liberto.
Sob a orientação da consultora Regina Machado, do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), o “Workshop de Geração de Produtos Coleção Expojoia 2012” começou na terça-feira (21) com um ciclo de palestras sobre a Belle Époque, o período de riquezas proporcionado pelo comércio da borracha, e continuou na quarta-feira (22) com uma visita monitorada a vários pontos de Belém, como o Mercado Francisco Bolonha, no Ver-o-Peso, a Praça do Relógio, o Theatro da Paz e o centro comercial.
O workshop é voltado à criação e confecção das joias para a IX Pará Expojoia – Amazônia Design, que ocorrerá de 4 a 8 de dezembro, promovida pelo Instituto de Gemas e Joias da Amazônia (Igama), instituição gerenciadora do Espaço São José Liberto/Polo Joalheiro, em parceria com o Governo do Pará, via Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração (Seicom).
O workshop é direcionado aos designers de joias e profissionais da área de Design vinculados ao Programa de Desenvolvimento do Setor de Joias e Metais Preciosos do Pará, gerenciado pelo Igama.
Fachada da Loja Paris N'América |
“Viagem” - A visitação partiu do Complexo Ver-o-Peso, passando por construções como a Loja Paris N’América, cujas escadarias chamam a atenção pela beleza, e terminou no Theatro da Paz, uma das relíquias arquitetônicas do Ciclo da Borracha.
“Viagens pela Belle Époque: Olhares sobre o cotidiano e o urbanismo da Belém no início do século XX” foi o tema do ciclo de palestras, no qual Regina Machado, arquiteta, designer de joias, mestre em Comunicação dos Sistemas Simbólicos e doutora em Comunicação e Cultura pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ), iniciou o trabalho de concepção da nova coleção.
Regina, que também é pesquisadora de tendências para o IBGM e consultora criativa para o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Nacional) e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), contou na visitação aos prédios históricos com a participação de Thiago Vianna, historiador e gestor de Patrimônio Histórico e Cultural.
Poste da Praça do Relógio |
Inspirações - O grupo de alunos e técnicos do Polo Joalheiro começou a visita pela Praça do Relógio, localizada no centro comercial, onde foram registrados desde os detalhes dos postes que contornam a praça, com “seus capitéis (coroas das colunas) coríntios, bem Art Nouveau (Arte Nova), ao estilo Belle Époque”, observou Regina Machado.
Thiago Vianna também apontou as estátuas em destaque na parte superior de algumas construções, elementos decorativos fabricados por uma empresa de Portugal, que serviam para enfeitar casas e lojas comerciais, representando as Letras, o Comércio, a Lei e outras formas de demonstrar o status de seus proprietários.
Durante a visitação, tudo poderia servir como fonte de informação e inspiração para os designers, como os detalhes das formas das grades e até das pequenas argolas colocadas no alto das fachadas de alguns prédios que, de acordo com o historiador, serviam para a locomoção de móveis maiores que não poderiam ser levados para os andares superiores pelas escadas estreitas.
Estrutura metálica do Mercado Bolonha |
Detalhe da arquitetura do Mercado Bolonha |
Ao apontar uma grade que lembra a forma das asas de um pavão, Regina Machado informou que, dentro do amplo tema que envolve a Belle Époque, a serralheria pode ser uma grande fonte de criação, por destacar formas românticas, como um coração em forma de flecha de cupido, que faz parte da estrutura do Mercado Bolonha (mais conhecido como mercado de carne). “A grade fala muito do feminino e tem a facilidade e a diferenciação dos metais que a gente trabalha na joalheria, o ouro e a prata. Vamos tentar um olhar abduzido, como um ser de outro planeta que se encanta ao olhar o mundo pela primeira vez”, ressaltou a consultora.
Azulejos encontrados, por exemplo, na entrada do Mercado Bolonha, são outra fonte rica de inspiração, bem como as fachadas de prédios, como o que abriga a 6ª Seccional Urbana de Polícia, em frente à Praça das Mercês, onde se vê a mistura de colunas de estilo Coríntio, da Escola Greco Romana (e suas formas em arabescos), com elementos neoclássicos (horizontais) da própria estrutura do prédio. Regina Machado lembrou que o período romântico é saudosista, misturando elementos de vários estilos. “O espírito da Belle Époque se encanta nos pequenos detalhes: é fantasioso e teatralmente eclético”, reiterou.
Fachada da 6ª Seccional Urbana de Polícia, na Praça das Mercês |
Belle Époque amazônica - Os participantes também conferiram a harmonia de desenhos, formas, cores e estilos característicos da riqueza do período na chegada à Loja Paris N’América, fundada em 1870 e localizada na Rua Santo Antônio, no centro comercial. Nela funciona uma loja de tecidos, e já foi um ponto de encontro da sociedade paraense. A arquitetura é a própria representação do que Belém vivenciou no Ciclo da Borracha, quando a cidade ficou conhecida como Paris N'América ou como Belle Époque Amazônica.
O grupo acompanhou atentamente as explicações e fotografou o piso, o lustre e as colunas da loja, onde a sofisticação do corrimão de ferro da escadaria central foi realçada, além da pintura. A consultora explicou que era comum no período algumas pinturas e esculturas retratarem a “europeização da figura humana”, como representar índios com o tipo físico do europeu.
Thiago Vianna e Regina Machado (centro), na escadaria da Paris N'América |
Detalhe do painel de azulejo da Fan Pacheco |
História - Na Biblioteca Fran Pacheco, na sede social do Grêmio Literário e Recreativo Português, os visitantes viram logo na entrada grandes painéis em azulejos, retratando fatos históricos. Segundo Thiago Vianna, o local, que abriga especialmente exemplares das Literaturas Portuguesa, Francesa e Espanhola, servia como espaço para realização de cursos e como uma pequena escola de alfabetização para os portugueses que chegavam à cidade.
Seguindo o roteiro, o grupo visitou a sede da Fundação Yamada, casarão localizado na Travessa Frutuoso Guimarães, que está sendo restaurado para ser um espaço cultural. Regina Machado apontou, na entrada do prédio, a coluna em estilo Jônico com elementos marajoaras, ressaltando a estilização e a mistura características do período.
A designer Rosa Leal destacou a beleza da pintura feita à mão nas paredes de cada ambiente da entrada, que remetem ao colorido da chita, tecido estampado de cores fortes, geralmente florais. Rosa também ressaltou a geometria dos tacos de madeira do piso, diferenciada em cada sala.
Aprovação – “Qualquer atividade para a criação de projetos demanda muita pesquisa, que serve de lastro para a criação. Este workshop está muito rico, tanto pelas visitas, quanto pelas quatro palestras, todas muito completas e informativas”, disse o designer Fares Farage, formado pelo Curso de Design da Universidade do Estado do Pará (Uepa), com habilitação em Projeto de Produtos, e vinculado ao Polo Joalheiro.
Sede social do Grêmio Literário Português abriga a Biblioteca Fan Pacheco |
Aprovação – “Qualquer atividade para a criação de projetos demanda muita pesquisa, que serve de lastro para a criação. Este workshop está muito rico, tanto pelas visitas, quanto pelas quatro palestras, todas muito completas e informativas”, disse o designer Fares Farage, formado pelo Curso de Design da Universidade do Estado do Pará (Uepa), com habilitação em Projeto de Produtos, e vinculado ao Polo Joalheiro.
O grupo ainda percorreu a Avenida Presidente Vargas e a Praça da República, completando o roteiro em frente ao Theatro da Paz. Regina Machado falou sobre o paisagismo característico do período, representado pelo conjunto urbano composto pela arquitetura e pelas alamedas de mangueiras centenárias. Ela frisou, ainda, que a Belle Époque retrata muito a figura feminina, as musas, sendo a cidade de Belém a grande musa inspiradora para cada joia que será criada e mostrada na próxima Pará Expojoia.
TEXTO: Socorro Costa e Luciane Barros - Ascom/Igama
Belém da Belle Époque é a musa inspiradora da Expojoia 2012 |
TEXTO: Socorro Costa e Luciane Barros - Ascom/Igama
FOTOS: Thiago Pinotti e Clarisse Fonseca/Igama
Ascom/Igama
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