Designers de joias do Pará abrem portas em um mercado fechado e competitivo

Nas últimas décadas, é comum destacar a entrada das mulheres em mercados de trabalho dominados pelos homens. Isso acontece nas ciências, nos postos de comando e até em atividades que exigem força física. No entanto, mulheres também constroem novos caminhos profissionais, abrem portas e se consolidam como profissionais competentes em cenários cada vez mais fechados e competitivos.

Um grupo de designers de joias vinculadas ao Polo Joalheiro do Pará é um exemplo claro dessa nova realidade. Selecionadas nos principais concursos de joias do país – locais, nacionais e internacionais -, elas se destacam em um mercado que, há 10 anos, sequer existia no Estado. Lídia Abrahim, Selma Montenegro, Clara Amorim, Maria das Graças Cardoso, Celeste Heitmann e Eliete (Eli) Cascaes não trabalham apenas para reescrever páginas. Elas protagonizam a história do design de joias no Pará.

Pioneiras no Estado em um nicho profissional cujo mercado está em franca expansão, as designers começaram essa história primeiro entrando no “clube” da ourivesaria, setor historicamente dominado pelos homens. Uma conquista que elas atribuem ao Programa de Desenvolvimento de Gemas e Metais Preciosos do Pará, mantido pelo governo do Estado desde 1998, atualmente vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia (Sedect), e gerenciado pela Organização Social Instituto de Gemas e Joias da Amazônia (Igama).

Maria das Graças Cardoso, vencedora em 2008 do I Prêmio em Design de Joias do Pará, promovido pelo Sebrae-PA com apoio do Igama, começou nas bancas de ourives, ao lado do irmão, Francisco de Assis. Da arte de fazer joia, migrou para o campo da criação. Como ela, Celeste Heitmann também fez da experiência como artesã e artista plástica a base para ingressar, com sucesso, na seara do design de joias. Também premiada no I Prêmio em Design do Pará, a “paraense” nascida em Lisboa (Portugal) retrata em suas peças uma forte religiosidade e a valorização das gemas minerais, traço marcante também nas criações de Eli Cascaes.

Ganhando o mundo - Atravessando as fronteiras do Pará, Selma Montenegro, Clara Amorim e Lídia Abrahim integram, junto com os principais profissionais do ramo no país, o seleto grupo de designers premiados nos principais concursos de joias do Brasil: o AngloGold Ashanti AuDITIONS, promovido pela mineradora AngloGold Ashanti, a maior do planeta, e o Prêmio IBGM de Design de Joias, uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM).

Pioneira da Região Norte, Selma Montenegro – nascida em Afuá, no Arquipélago do Marajó e formada em Educação Artística pela Universidade Federal do Pará (UFPA) – foi a primeira a colocar uma joia criada e confecciona na Amazônia entre os trabalhos selecionados no Prêmio IBGM, em 2006. Em 2008, na categoria “Arquitetura Brasileira”, seu projeto ficou entre os 10 melhores.
Segundo ela, a cada ano aumenta a exigência por qualidade no mercado de joias, e “nesse processo o design é fundamental”. Selma, que também foi premiada no concurso estadual promovido pelo Seabre na Categoria Profissional, junto com Eli Cascaes, vê as premiações como a “valorização do talento de quem trabalha nessa área”.
Artesanato – O trabalho como artesã também foi o ponto de partida para a carreira de Lídia Abrahim. Hoje, aos 27 anos, ela ostenta no currículo três participações em concursos muito disputados no segmento joalheiro. Ano passado, foi selecionada na Categoria Designer (que reúne apenas profissionais) no AngloGold Ashanti AuDITIONS, e este ano já está entre os selecionados dos concursos ao IDEA Brasil, edição nacional do maior prêmio de design dos Estados Unidos, e ao Prêmio ICA de Design de Joias com Pedras de Cor, evento da programação do 14º Congresso Mundial de Gemas Coradas, o Rio ICA Congress, que acontecerá de 30 de abril a 4 de maio deste ano, no Rio de Janeiro.

Paralelamente à carreira de designer de joias premiada, Lídia mantém ativa a produção artesanal. Uma vertente de seu talento que pode ser conferida a partir de 17 de abril, com a mostra “Manualidade – exposição de adornos artesanais”, dentro da programação da Semana do Artesão, no Espaço São José Liberto. As peças, produzidas em parceria com a artesã Ana Maria Oliveira, retratam o “fazer manual livre”.

Formada em Design de Produtos pela Universidade do Estado do Pará (Uepa), mesma graduação de Clara Amorim, Lídia atribui o crescimento da qualidade de seu trabalho como designer ao incentivo recebido do Polo Joalheiro do Pará. Com o programa de qualificação oferecido pelo Igama e o Sebrae-PA, Lídia e Clara também decidiram conhecer todas as etapas de produção de uma joia, e fizeram os cursos de joalheria básica e avançada na Escola Rhama, que funciona no próprio Espaço São José Liberto.

Essa qualificação é importante, destacam as designers, porque permite ao profissional que cria saber como sua peça pode ser concretizada, sem perder nenhuma das características conferidas pelo criador.

Sobre os destaques nos concursos, Lídia agradece “ao meu Estado, porque sou fruto dessa terrinha, da nossa Escola Paraense de Joalheria, formada por designers, lapidários, artesãos, pequenos empresários, vendedores e tantos outros que contribuem para o crescimento deste setor no Pará”.

Designer diferenciado – O reconhecimento do design de joias do Pará no Brasil, e em outros países, é apenas um dos resultados do trabalho de fomento à cadeia produtiva de gemas e joias, realizado pelo governo do Estado, Sedect e Igama, com o apoio de parceiros importantes, como Sebrae-PA, IBGM, Uepa e Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapespa).

Essas conquistas, destaca Rosa Helena Neves, diretora executiva do Igama e gestora do Programa de Gemas e Metais Preciosos, resultam “de um programa governamental pioneiro no país, e instalado em um espaço único, o São José Liberto, onde cultura, turismo e patrimônio arquitetônico se harmonizam entre paredes centenárias. É um programa que chama a atenção em todos os lugares onde as joias do Pará são apresentadas, por incentivar o design diferenciado, com base nas raízes culturais da Amazônia”.

Um reconhecimento reforçado por Cidda Siqueira (designer de joias, pesquisadora de Tendências e consultora de Estilo e Gestão em Design). “A joalheria do Pará é fantástica!”, afirma Cidda, por traduzir “seus ícones mais significativos – lendas, personagens míticos, ornamentos e signos que povoam seu imaginário”, e ao mesmo tempo caminhar “em direção a uma estética mais contemporânea, em sintonia com as últimas tendências da moda”.

Para Regina Machado, doutora em Comunicação e Cultura, consultora de Estilo do IBGM e membro da Academia Audition da AngloGold Ashanti, “é visível o aprimoramento da qualidade do design de joias local”. Segundo ela, os designers paraenses mantêm a inspiração na cultura, mas cada vez mais realizam “sínteses poéticas inovadoras”.

E é nesse necessário, pontuado pela leveza dos traços criativos do desenho, pela habilidade em manusear a dureza dos metais preciosos e das gemas, sejam minerais ou orgânicas, e pelas dificuldades inerentes a quem imprime a marca do pioneirismo, que as designers de joias do Pará vêm concretizando uma nova história nesse segmento, e construindo caminhos que deverão ser percorridos, com igual brilho, por muitas outras Lídias, Claras, Selmas, Celestes, Marias e Elietes.

Ascom/Igama
Imagens: Agência Pará de Notícias




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