Maestro Nailton Pamplona durante regência da Banda Jovem de Tailândia. Foto: Nailton Pamplona/Arquivo Pessoal |
Filho da cidade de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, o artesão Nailton Barbosa Pamplona expõe seu artesanato de madeira na Casa do Artesão, no Espaço São José Liberto, desde o ano de 2004, quando ingressou no Programa Polo Joalheiro do Pará. Importante vitrine do artesanato paraense, no espaço são comercializados móveis em madeira esculpidos diretamente no tronco das árvores que o artesão encontra na mata, conferindo a cada criação uma forma bela e exclusiva.
Nailton explica que poltronas, sofás, bancos, mesas e outras peças de mobília não são resultado de seus primeiros trabalhos. Suas primeiras peças utilitárias e decorativas foram produzidas com a técnica da machetaria, que consiste em criar mosaicos com lascas de madeira para decorar os objetos fabricados. O artesão aprendeu a criar objetos ainda pequeno, aos 12 anos, com o mestre artesão Ismaelino, um grande incentivador de seu trabalho e muito conhecido na cidade de Ponta de Pedras.
Estante criada por Nailton Pamplona. Foto: Nailton Pamplona/Arquivo Pessoal |
A grande divulgação do seu trabalho artesanal ocorreu quando foi convidado para participar de uma exposição de artesanato organizada pela organização social Pará 2000, na Estação das Docas, em 2004. O convite foi bem aceito, já que o artesão estava em busca de um local para expor suas peças. Nailton Pamplona confeccionou estantes de madeira que acabaram chamando mais atenção do que as demais peças da mostra. “Fiz a estante para essa finalidade e acabou que foi o que fez mais sucesso na feira. O pessoal perguntava da estante e não procurava saber das peças pequenas de artesanato. Daí comecei a fazer e a criar”, relembra.
“Sempre faço (o artesanato) a partir de um tronco que está ali jogado, mas ainda verde. Gosto muito de trabalhar com esses que já tem tempo, que já estão envelhecidos pela própria natureza. Aquele branco da madeira já foi todo, só está o âmago”, explica o artesão sobre seu método de trabalho. Nailton também conta que seus trabalhos já foram adquiridos por artistas nacionais como Cássia Kiss e Paulo Goulart, e também foram exportados para países como Estados Unidos, Alemanha e Martinica.
Responsabilidade social – O ano de 2006 foi um divisor de águas para Nailton Pamplona, que foi diagnosticado com um grave problema de coluna que o impossibilitou de executar trabalhos mais pesados, o que acabou o levando naturalmente para outra paixão de sua vida: a música. Músico autodidata desde os 12 anos de idade, em novembro de 2007 ele fundou a Associação Musical Melodia Celestial (Amec), por meio da qual organizou e fundou a Banda de Música da Assembleia de Deus no município de Ponta de Pedras, onde trabalhou até junho de 2009.
Maestro Nailton com alunos da Associação Musical Melodia Celestial. Foto: Nailton Pamplona/Arquivo Pessoal |
Em outubro de 2009, o artesão passou a ensinar música para crianças no município de Tailândia, do sudeste paraense, a semente que o levou a começar a formar uma pequena banda, composta por seus primeiros alunos de flauta doce, que começaram a ser alfabetizados musicalmente. De início, a iniciativa era custeada pelo próprio Nailton. Posteriormente, com a repercussão e os resultados obtidos, o projeto passou a receber suporte da prefeitura local e os integrantes da banda também começaram a tocar outros instrumentos.
Quando Nailton iniciou o projeto “Semente Musical”, contava apenas com 25 alunos. Atualmente, atende mais de 270 crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos, sendo metade dos integrantes da banda formada por mulheres, na faixa etária de 13 a 17 anos. Com o crescimento do número de alunos e a necessidade de um local próprio para as aulas, foi criada em 2012 a Associação Musical Amigos de Tailândia, onde todas as turmas são atendidas.
A Banda Jovem de Tailândia já se apresentou em vários festivais de música em localidades nos arredores da cidade, como o Painel Funarte de Bandas de Música, em Bragança, no nordeste do Pará, evento que reuniu mais de 700 crianças e adolescentes de vários municípios, em cursos de aperfeiçoamento musical. Participou ainda, em 2014, pela segunda vez, em Belém, do XXVII Festival Internacional de Música do Pará.
Banda Jovem de Tailândia em apresentação durante o Música das Américas 2014.Foto: Eunice Pinto/Agência Pará |
A Banda Jovem de Tailândia se apresentou dia 3 de maio no Festival de Música das Américas, que ocorreu no Coliseu das Artes, no Espaço São José Liberto. Sob a regência do Mestre Ton, como é conhecido em Tailândia, a banda mostrou seu repertório ao público do festival. Formada por 39 jovens músicos do município e integrantes da primeira turma de Nailton, a banda foi a atração da segunda noite do “Música das Américas 2014”, que integrou a primeira etapa do Festival Internacional de Música do Pará. A Banda Jovem de Tailândia apresentou repertório diversificado, que incluiu um pot-pourri de carimbó, com música do paraense Pinduca, além de peças de Mozart e de Zequinha de Abreu.
Nailton Pamplona ressalta a importância da existência da banda para o município de Tailândia e para as crianças que integram o projeto, por ser uma iniciativa pioneira na região que, a caminho de completar três anos, já está se destacando nos eventos em que participa. “Ponta de Pedras tem 33 anos. Em Vigia a banda é centenária; em São Caetano de Odivelas também. Tailândia, em maio, completou 26 anos de emancipação política. É uma cidade nova com uma banda nova”. Exatamente por isso, acrescenta, foi uma surpresa grande uma banda tão nova ter uma recepção tão boa do público e dos músicos do festival internacional.
Apresentação durante o Música das Américas 2014 - XXVII Festival Internacional de Música do Pará. Foto: Nailton Pamplona/Arquivo Pessoal |
Com planos de continuar crescendo e desenvolvendo seus projetos junto com a banda e com o apoio da Prefeitura de Tailândia, Nailton Pamplona diz que, mesmo que não possa dar continuidade ao trabalho musical, espera que outros atuem em seu lugar para que a banda evolua cada vez mais. A partir da oferta de aulas em grupo com instrumentos de corda, como violinos, violoncelos e violas, a associação tem despertado o interesse de novos alunos.
“Nossa meta é crescer ali (no município de Tailândia). Hoje somos uma banda de música, e a gente já quer ver se consegue formar uma banda sinfônica e, quem sabe, mais para frente, que não seja mais eu que esteja lá trabalhando, essa outra pessoa vá e tenha essa visão de transformar em uma orquestra bem estruturada, com instrumentos de corda e seguir com o trabalho”, frisa.
É o que espera o artesão, também conhecido como maestro Nailton Barbosa Pamplona, que diz estar buscando formação profissional na área da música para poder incrementar seu trabalho. Incansável, o autodidata Nailton busca aprimoramento constante em cursos de regência e oficinas musicais e tem como objetivo conseguir cursar licenciatura em música.
Luiz Armando Paes Loureiro Viana - Ascom/Igama
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