Novas coleções de joias do Polo Joalheiro do Pará compõem vitrines sobre diversidade cultural amazônica


*Por Rosa Helena Neves
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Pingente "Amazônia Livre", criado e produzido por Clara Amorim, para a coleção de joias Sinestesia da Floresta, em composição à exposição coletiva Potências Amazônicas. Em prata com gema mineral crisoprásio e gema vegetal de jambu - criada e produzida por Paulo Tavares e Mônica Matos.

Foto: João Ramid AIB

Valorizar as condições de vida da humanidade promovendo, em especial, a diversidade cultural das comunidades tradicionais amazônicas é uma marca das joias criadas e produzidas pelos designers, micro e pequenos empresários do Programa Polo Joalheiro do Pará. Essa escolha artística e criativa, que tem gerado experiências inovadoras na produção de joias, pode ser reconhecida como um engajamento cultural para promover tanto a joalheria brasileiro-amazônica, quanto a cultura paraense no seu mais amplo conceito. Uma prática consolidada desde 2002 com o funcionamento do território criativo Espaço São José Liberto.


Com design contemporâneo foram criadas três coleções de joias para a exposição “Potências Amazônicas: Biodiversidade e Diversidade Cultural na Belém 400 Anos”, aberta no Espaço São José Liberto de 2 de fevereiro a 3 de abril de 2016: Encantos da Cidade, Sinestesia da Floresta e Passeio por Belém nos seus 400 Anos de História.


São 141 joias com altíssimo valor agregado, apresentadas por meio de objetos simbólicos, como anéis, colares, brincos, braceletes, pingentes e pulseiras, registrando as marcas identitárias da cultura paraense amazônica e sua biodiversidade.

As coleções foram criadas por meio da trilogia “metais preciosos/materiais orgânicos e alternativos/técnicas tradicionais e inovativas”, com destaque para as práticas artesanais influenciadas pelas comunidades ribeirinhas e do Marajó. Marchetaria, incrustação paraense. ourivesaria artesanal, lapidação diferenciada, cravação com alto padrão de qualidade, artesanias em madeira e fibra são encontradas nas joias dessas coleções produzidas por uma rede de prestadores de serviços criativos devidamente formalizados.

Outra extraordinária invenção presente nesta vitrine são as gemas vegetais protagonizadas na coleção Sinestesia da Floresta, criadas pelo pesquisador e mestre ourives paraense Paulo Tavares, e produzidas pela empresa Mônica Matos da Amazônia, uma dupla dinâmica e talentosa da joalheria paraense, que com está invenção trouxe outro elemento fundante para essas joias: a inovação.

Imersos neste mundo inovativo de criar e produzir joias, foram lançadas três coleções empoderadas de ineditismo. Geradas por processos distintos de criação, duas destas coleções contaram com a direção criativa da designer carioca Regina Machado (Encantos da Cidade) e da designer paraense Rosângela Gouvêa (Passeio por Belém nos seus 400 Anos de História).

SINESTESIA DA FLORESTA 

Com o destaque das gemas vegetais, as joias da coleção Sinestesia da Floresta percorreram um processo diferenciado de criação, ao reunir um coletivo de designers, empreendedores individuais e microempresários para a criação de joias sob o conceito da sustentabilidade e da promoção da diversidade cultural, destacando a relação cultura-natureza e cultura alimentar da “Amazônia paraense”.

Usando as gemas vegetais criadas por Paulo Tavares e produzidas por Mônica Matos, um grupo de onze designers e 15 empresas formais de joias produziu uma coleção que dá continuidade ao projeto de “joias sustentáveis”, denominado “Metal-Morfose” e lançado em novembro de 2014, por meio do Programa Polo Joalheiro do Pará, a partir da pesquisa de Paulo Tavares e da participação inicial de um grupo de empresas e designers.

Trata-se de uma experiência inovadora de criar e produzir joias em um momento em que crescem as possibilidades de formar novos valores éticos na relação “homem/ consumo/mercado” e o desenvolvimento endógeno no território amazônico.

A partir de movimentos dialógicos entre a joia, a inovação e os valores intangíveis da cultura amazônica, foram produzidos anéis, colares, brincos, pingentes, braceletes e broches, utilizando as gemas vegetais de jambu, açaí, pupunha, chocolate, tucupi, pimenta, urucum. Uma rara experiência que promove a cultura amazônica e a gastronomia paraense. São formas inovadoras de difundir e preservar tradições de comunidades milenares da Amazônia na característica que lhe é mais particular: a sua cultura alimentar.


A modelo camilla Correia usa colar "Floresta Viva": Coleção de Joias Sinestesia da Floresta. Criação do designer Felipe Braun e produção da empresa Contemporâneo Design. Em prata com gema vegetal de pimenta (criada e produzida por Mônica Matos e Paulo Tavares) e gemas minerais ametista e granada. Foto: Leandro Santana AIB.

A modelo Marcela Lima usa "Sol Marajó", joias da Coleção Sinestesia da Floresta. Criação e produção da designer Nilma Arraes: em prata com gemas vegetais de açaí, criadas e produzidas por Paulo Tavares e Mônica Matos. 
Foto: Leandro Santana AIB.

Participam desse coletivo que criou a coleção “Sinestesia da Floresta” os seguintes designers, empresários, lapidários, ourives, pesquisador e produtor das gemas vegetais: Clara Amorim, Rosáurea Simões, Lídia Abrahim, Brenda Lopes, Nilma Arraes, Marcilene Rodrigues, Mônica Matos, Jocilene Souza, Felipe Braun, Fábio Monteiro, Bianca Kuroki, Barbara Müller, Jod Joias, Realiza Joias, Francisco Assis, Moã-Aram Joalheria, Amazonita, Rahma Gemas e Joias, Yemara Ateliê, Bellart Joias, Francileudo Furtado, Ednaldo Pereira, Joelson Leão, Charles Cordovil, Paulo Tavares e Mônica Matos Joias da Amazônia e Sila Brasila.

A CULTURA E A CIDADE 

A coleção de joias Encantos da Cidade é resultado de workshop de geração de produtos ministrado pela designer e arquiteta carioca Regina Machado. Essa coleção apresenta joias que adotaram no seu processo de criação e produção o conceito “Design Global Contemporâneo”, além de estudos e novas referências das tendências estéticas, de mercado e de repertórios do setor joalheiro mundial, derivadas desses movimentos.

 As inspirações temáticas escolhidas pelos criadores da coleção decorreram das pesquisas sobre os ambientes intangíveis da cidade e da cultura paraense amazônica. Coube a esses talentosos criativos destacar, nesse processo, o sentido amplo de comunicação do design de joias, reunindo a estética, a agregação dos valores tangíveis e intangíveis da cultura, destacando as características multidimensionais identitárias da Amazônia, sua história, o imaginário, a cidade e seus habitantes.


A modelo Stefany Figueiredo usa “Tradição Junina”, joias que integram a Coleção Encantos da Cidade. Criação da designer Helena Bezerra e produção da empresa HS Criações e Design: em prata com chita resinada. Foto: Leandro Santana AIB (acime) e João Ramid AIB.  

Neste processo foram destacadas, em recortes, a estética indígena dos grafismos marajoaras, o mistério e o lado idílico da lenda da Iara, a estampa das chitas das danças juninas, os sentimentos e emoções das lembranças de louças de família de porcelana, traços étnicos de tribos indígenas amazônicas, o encontro das águas nos rios da Amazônia e de Belém, as luminárias das praças da cidade, a beleza das helicônias, entre outras fontes de inspiração. Uma difícil tarefa quando toda essa “reserva de valor” deve ser apresentada sob uma leitura universal na busca de emocionar o olhar de visitantes de outros territórios. Tudo indica que a experiência deu certo, pois talento e criatividade são qualidades fortes deste grupo criativo.

Participam desta coleção os seguintes designers, lapidários, empresas e ourives: Joseli Limão, Celeste Heitmann, Laise Lobato, Jorge Duarte, Helena Bezerra, Brenda Lopes, Marcilene Rodrigues, Rosáurea Simões, Felipe Braun, Lídia Abrahim, Leila Salame, Da Natureza, HS Criações e Design, Bellart Joias, Gemas do Mundo, Contemporâneo Design, Ourogema, Yemara Atelier, Sila Brasila, Emerson Bezerra, Ednaldo Pereira e Cristiano Tavares.

HISTÓRIA, ARQUITETURA E CIDADE 

Tempo, memória e história do lugar, mediados pela arquitetura e recortes de enredos sobre a cidade de Belém. A partir dessa reflexão, um coletivo de designers e empresas do Programa Polo Joalheiro do Pará criou a coleção Passeio por Belém nos seus 400 anos de História.

O objetivo inicial da geração da coleção era celebrar o aniversário da capital paraense, que em 12 de janeiro de 2016 completou 400 anos. Com a realização do workshop de geração de produtos da coleção de joias “Belém 400 Anos”, ano passado, com a designer e professora do curso de Design da Universidade do Estado do Pará, Rosângela Gouvêa, o tema central da coleção foi redefinido: a arquitetura da cidade, suas perspectivas e narrativas.

Belém, como grande parte das cidades, é multifacetada em sua arquitetura e forma de organização urbana. Sabedor desse conhecimento, o coletivo criativo opinou pelo recorte da cidade, identificando o seu patrimônio histórico-cultural sobre os prédios do período colonial ao Brasil República.

A partir de uma imersão histórica foram criadas joias sob o conceito “memória”. As metodologias de design de joias da coleção, didaticamente, seguiram as seguintes fases: pesquisa de conteúdo teórico e levantamento de dados através de imagens e da realização de uma imersão in loco, feita em outra atividade programada pelo Polo Joalheiro do Pará, que contou com visitas monitoradas pelos bairros de Belém, com a presença do historiador e fotógrafo paraense Michel Pinho.

Dando prosseguimento ao processo, foram desenvolvidas diversas técnicas de criatividade nas etapas de preparação, geração e seleção de ideias e revisão do processo criativo, de maneira que os conteúdos culturais e históricos levantados fossem agregados por meio do design, considerado neste processo de criação e produção de joias uma ferramenta que agrega inovação, identidade cultural, valores estéticos e diversidade cultural.

Nessa perspectiva, os olhares e recortes sobre esses conteúdos foram expressos a partir das fachadas dos prédios, praças e monumentos visitados e pesquisados. Foram enumerados os ricos detalhes de pisos, gradios, telhados, símbolos patrióticos, luminárias de monumentos e praças, objetos sacros, mercados de carne e peixe, ladrilhos e calçadas.

A coleção gerada permite uma incursão em uma cidade, na qual, no dia-a-dia, não se consegue perceber que exista, mas de maneira surpreendente está muito próxima de todos.

São joias encantadoras pelas suas delicadas expressões e rico conteúdo da memória cultural da cidade. Aliados a tanta sensibilidade estão os processos de ourivesaria artesanal e as adequadas escolhas dos tipos de lapidação, produzidas em forma de briolet, gota, navetes e cabochão.

As escolhas das gemas, como quartzos hialinos, cornalina, ágata vermelha, jade, quartzos leitoso branco, fumê e verde, esmeraldas, ametistas, crisoprásios, hematita, citrinos, rubi, green gold e perólas barrocas, deram a devida elegância às joias memoriais produzidas.

A modelo Emanuelle Costa usa colar "Aos Teus Pés". Integra a Coleção Passeio por Belém nos seus 400 Anos de História. Criação de Mônica Matos e produção de Mônica Matos Joias da Amazônia e Paulo Tavares. Em prata com gema mineral green gold em forma de gota. Foto: Leandro Santana AIB. 
A modelo Livia Soares usa conjunto "Nostalgia", integra a Coleção Passeio por Belém nos seus 400 Anos de História. Criação e produção do designer  Ivam Silva. Em prata com quartzo hialino. Foto: Leandro Santana AIB 

Participam desta coleção os seguintes profissionais designers, criadores, produtores, lapidários, empresas e ourives: Bianca Kuroki, Brenda Lopes, Celeste Heitmann, Helena Bezerra, Ivam Silva, Ivete Negrão, Jorge Duarte, Joseli Limão, José Leuan, Mônica Matos, Rosáurea Simões, Rosa Castro, Joiartmiro, Ourogema, Francisco Assis, HS Criações e Design, Sila Basila, Amazon Art Joias, Jod Joias, Da Natureza, Leila Salame, Paulo Tavares, Emerson Bezerra, Joelson Leão, Sérgio Marques e Ednaldo Pereira. 

*Rosa Helena Nascimento Neves é pedagoga, mestra em Políticas Públicas na área da Educação, produtora cultural nas áreas do Teatro, Música e Cinema, pesquisadora sobre os temas “Manifestações Culturais do Estado do Pará” e “Memória Feminina”, com experiência em gestão de projetos sociais e de economia criativa. Atua, desde 2007, como diretora executiva do Instituto de Gemas e Joias da Amazônia (Igama) e do Espaço São José Liberto e do Programa Polo Joalheiro do Pará.


Ascom Igama




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